ADUR Online #64: A universidade e a consciência negra: para além do mês de novembr
22 de novembro de 2021
ADUR Online #64
Por Rafael Lazaro
O mês de novembro é marcado por articulações culturais e educacionais que se propõem reverenciar a resistência negra no Brasil. A escolha deste mês, mas especificamente do dia 20, eleva-se de uma reinvindicação do Grupo Palmares como marco do dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e que foi morto por tropas coloniais no dia 20 de novembro de 1695. É sabido que a data de 13 de maio sempre foi exaltada midiaticamente, assim como em instituições educacionais, como um dia de comemoração e exaltação à liberdade dos negros escravizados no país. A escolha pela data de 20 de novembro surge sob a argumentação de que, mesmo depois de liberta, a população negra brasileira continuou privada de assistências e direitos básicos que nos trazem à imensa desigualdade de estrutura e oportunidades entre cidadãos negros e brancos na nossa sociedade. Além disso, o Professor Petrônio Domingues nos recorda a opção de destaque por uma data que reverenciasse a resistência negra, não a benevolência de um membro branco da coroa, a princesa Isabel, forma como muitas vezes é lida e anunciada a Abolição da Escravatura.
Mesmo diante a resistências e oposições que muitas vezes se colocam sobre a estipulação de uma data para a consciência negra, ao ponto de determinados grupos reivindicarem uma data para consciência humana ou para consciência branca, o mês de novembro continua sendo um momento importante no qual a população é convocada a pensar a desigualdade racial e suas sequelas. Como pauta a ex-ministra e professora Nilma Lino Gomes, “O Movimento Negro é Educador” e é essa adjacência entre o movimento negro e a educação que permitiu uma luta contínua que resultou em políticas afirmativas que tornaram as universidades mais coloridas, inserindo mulheres e homens negros na estrutura eurocêntrica e branca da universidade, tornando cada vez mais emergencial uma discussão que abranja não somente a entrada destes corpos nestes espaços, mas também a inserção de seus pensamentos.
É muito comum que esta época do ano seja repleta de convites de organizações de diversas esferas que se mostram dispostas a ouvir profissionais e militantes negros sobre questões raciais as quais esses sujeitos se debruçam por anos, mas que muitas vezes são ignoradas e inferiorizadas. Tudo seria bem coerente se estes diálogos não se limitassem ao mês de novembro, mas fossem expandidos por todo o calendário, trazendo mudanças sociais/ raciais efetivas e pragmáticas.
A docência superior não pode evadir-se desta discussão. Sabemos que o corpo docente das universidades ainda é formado por uma maioria branca. Temos ciência também que as supracitadas ações afirmativas vêm modificando o perfil discente e docente das universidades, democratizando o acesso e trazendo novos desafios à comunidade acadêmica. Neste mês de novembro, e diante a tantos ataques sofridos pelas universidades e pelo movimento negro, é importante que repensemos como estamos trazendo a democracia racial para nossa sala de aula. Como romper as estruturas eurocêntricas e trazer novas epistemologias? Como representar a maioria negra de nossa população em nossos currículos, ementas e planos? Como trazer o pensamento negro para a universidade de forma abrangente e efetiva, sem associar-nos à simples limitação ao mês da Consciência Negra? Que novas práticas possam nos orientar para que tornemos a universidade um ambiente inclusivo e consciente durante todo o ano.
*Rafael Lazaro é Professor Adjunto – Ensino de Língua Espanhola e Didática Geral do Departamento de Educação e Sociedade (IM/UFRRJ).
*ADUR ONLINE é um espaço aberto aos docentes e pesquisadores da UFRRJ e de outras Universidades também. As opiniões expressas no texto não necessariamente representam a opinião da Diretoria da ADUR-RJ.
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